O estudo do pensamento e da ação da intelectualidade econômica não deve se esgotar na mera categorização em “tendências teóricas” ou “escolas”, inferidas a partir do conteúdo explícito da produção intelectual dos homens nelas enquadrados. Deve-se buscar compreender o exercício do intelectual a partir do uso que faz de diferentes modelos teóricos como instrumento para difundir determinado conjunto de valores éticos.
Orientado por essa premissa, este livro examina os fundamentos éticos do pensamento de um grupo de economistas composto por Eugênio Gudin, Otávio Gouvêa de Bulhões, Roberto Campos, Delfim Netto e Mario Henrique Simonsen, identificados como “elite intelectual moderno-burguesa”. Eles tiveram presença marcante no debate econômico brasileiro durante a década de 1960 e seguintes, além de terem participado diretamente do esforço de reformas engendrado após o golpe militar de 1964.
O estudo centra-se na produção intelectual desse grupo entre 1960 e 1969, no que se refere ao processo de dissolução do chamado Projeto Desenvolvimentista e às reformas econômicas empreendidas durante os governos de Castello Branco e de Costa e Silva. Para a análise dos fundamentos éticos da elite intelectual moderno-burguesa, adota-se aporte baseado no utilitarismo de Jeremy Bentham e de John Stuart Mill, bem como na filosofia analítica de G. E. Moore.
As relações entre ética e pensamento econômico, e entre pensamento e ação dos economistas, mostram que o exercício da função intelectual encontra claros limites quando entra em interseção com outros exercícios funcionais (político-burocrático, especialmente), levando a contradições que raramente serão decididas pelo exercício da própria função intelectual.
Estabilidade e crescimento
Daniel de Pinho Barreiros
ISBN: 978 85 98271 79 8
Código de barras: 9 788598 271798
Formato: 15×22,5cm
Número de páginas: 352
Peso: 510g
Ano: 2010
Introdução
1. Elites intelectuais no Brasil comtemporâneo
1.1. Os intelectuais como um grupo funcional
1.2. Fragilidade do conceito de “intelectual orgânico”
1.3. O grupo funcional dos intelectuais e sua estratificação interna
1.4. Ideologia, escolhas teóricas e a formação das “elites” intelectuais
1.4.1. Condições de acesso à elite intelectual
1.4.2. A elite intelectual como um grupo de status
1.5. A recomposição das elites intelectuais
1.6. O exercício funcional dos intelectuais no debate econômico
1.6.1. A retórica como instrumento de poder por parte dos intelectuais
1.6.2. Limites do “projeto retórico”
1.6.3. Contribuições do “projeto retórico” para a história2. O projeto desenvolvimentista
2.1. O Projeto Desenvolvimentista (1930–64)
2.1.1. Burocracia
2.1.2. Meritocracia
2.1.3. Planejamento
2.1.4. Estado como condutor do desenvolvimento
2.1.5. Estado como empresário
2.1.6. Política de massas e corporativismo
2.1.7. Nacionalismo
2.2. O colapso do Projeto Desenvolvimentista
2.3. As elites intelectuais e o Projeto Desenvolvimentista
2.3.1. A elite intelectual desenvolvimentista
2.3.1.1. A elite intelectual desenvolvimentista nacionalista
2.3.1.2. A elite intelectual desenvolvimentista internacionalista
2.3.2. Outros intelectuais industrialistas
2.4. Recomposição das elites intelectuais pós-19643. Elite intelectual reformista moderno-burguesa
3.1. Recomposição de elites
3.1.1. Desenvolvimentistas internacionalistas e neoliberais
3.1.2. A nova elite intelectual moderno-burguesa
3.2. Princípios intelectuais fundamentais4. Moeda e câmbio
4.1. Emissão de moeda como transmissor de pressão inflacionária
4.2. A manipulação do câmbio como fator de instabilidade5. Preços e salários
5.1. O controle de preços
5.2. O populismo salarial
5.3. O papel dos monopólios na instabilidade econômica
5.4. Perturbações ao livre funcionamento do mercado
5.5 A influência do populismo tarifário em um economia instável6. Desenvolvimentismo, populismo e seus malefícios
6.1. A necessária ruptura com o Projeto Desenvolvimentista
6.2. Sobrevivências populistas no regime militar
6.3. Desenvolvimentistas não compreendem a inflação
6.4. Contra a falácia da “inflação estrutural latino-americana”
6.5. Contra a “inflação produtiva” e a “tolerância inflacionária”
6.6. Maior rigor no diagnóstico e na terapêutica anti-inflacionária
6.7. Economia instável como economia subdesenvolvidaConclusão
Referências