“A obra coletiva História e imprensa: representações culturais e práticas de poder é fruto do seminário de mesmo nome que teve lugar na Uerj, em 2003. Seus organizadores – Lúcia Bastos, Marco Morel e Tania Bessone – há muito se dedicam ao exame das relações entre o conhecimento histórico e a imprensa. Basta lembrar, entre outras iniciativas, o colóquio que promoveram por ocasião do centenário do jornalista Barbosa Lima Sobrinho.
A imprensa até há bem pouco tempo era vista com reservas pela historiografia. Percebida, tradicionalmente, como veículo de difusão dos fatos e da ‘verdade’, descrita no século XIX como o quarto poder, constituía fonte documental por excelência da história política. Esta, por sua vez, veio a ser alvo da censura da Escola dos Annales, identificada com a análise do acontecimento, do episódico, do particular e do individual.
A suspeição ganharia considerável reforço, com as teses sustentadas por Fernand Braudel a respeito das múltiplas temporalidades. No jogo dialético da duração, história e imprensa lidam com realidades cronológicas opostas. Para Braudel, a primeira rastreia as regularidades no tempo longo, buscando as causas mais profundas dos fatos históricos. Já a segunda, voltada para o tempo breve, limita-se ao fato e ao indivíduo, à narração dramática e de pouco fôlego. Esse quadro de desconfiança ainda seria agravado por uma concepção de viés marxista, de que a imprensa constitui um mero organismo propagador de idéias ou de forças sociais, subordinadas a uma infra-estrutura socioeconômica.
Nas duas últimas décadas do século XX, porém, por motivos que não cabe aqui aprofundar, a situação começou a se alterar. O político deixou de ser compreendido como um simples reflexo do econômico e passou a ser examinado não apenas como uma esfera autônoma em face das outras instâncias da sociedade, mas também como um dos motores da mudança social. Nas palavras de René Rémond, ‘a história política inscreve-se numa perspectiva global, em que o político é um ponto de condensação’.
Por outro lado, com a introdução do conceito de cultura política, o olhar sobre o tempo curto do acontecimento pode ser cruzado com uma análise mais estrutural. A imprensa tornou-se uma espécie de espaço de observação privilegiado dessa interseção. Alcançou uma nova dimensão, que se estendeu às mídias, convertendo-se assim em objeto de estudo do historiador.
Tais mudanças aparecem com nitidez neste livro, cujas contribuições analisam e refletem sobre o papel desempenhado pela imprensa e pelos meios de comunicação no Brasil em diferentes momentos históricos, tomando como eixos analíticos o estudo das práticas de poder e das representações culturais. A obra constitui mais uma prova do movimento de renovação por que passam hoje os estudos de história política, ao mesmo tempo que demonstra seu enriquecimento na esteira dos avanços recentes da história cultural.”
(Lucia Maria Paschoal Guimarães)
História e imprensa: representações culturais e práticas de poder
Lúcia Maria Bastos P Neves (organização)
Marco Morel (organização)
Tania Maria Bessone da C Ferreira (organização)
ISBN: 85 74903 99 X
Código de barras: 9 788574 903996
Formato: 14×21cm
Número de páginas: 448
Peso: 540g
Ano: 2006
Coedição: Faperj
Autores
Lúcia Maria Bastos P Neves, Marco Morel, Tania Maria Bessone da C Ferreira (orgs.)
ApresentaçãoParte I: Imprensa e identidades políticas
João Paulo G Pimenta
Nas origens da imprensa luso-americana: o periodismo da província Cisplatina (1821–1822)Wlamir Silva
A imprensa e a pedagogia liberal na província de Minas Gerais (1825–1842)Marcello Basile
Projetos de Brasil e construção nacional na imprensa fluminense (1831–1835)Silvia Carla Pereira de Brito Fonseca
Apontamentos para o estudo da linguagem republicana na conformação de identidades políticas na imprensa regencial fluminenseGladys Sabina Ribeiro
Causa nacional e cidadania: a participação popular e a autonomia na imprensa carioca do início dos anos 1830Humberto Fernandes Machado
Imprensa e identidade do ex-escravo no contexto do pós-aboliçãoParte II: Impressos, cultura e sociedade
Maria Beatriz Nizza da Silva
A Idade d’Ouro do Brasil e as formas de sociabilidade baianasMarcus J M de Carvalho
A imprensa na formação do mercado de trabalho feminino no século XIXThéo Lobarinhas Piñeiro
O Jornal do Commercio e a crise do SoutoCarlos Gabriel Guimarães
O Correio e o debate sobre as finanças públicas portuguesas no Setembrismo (1836–1837)Ariane P Ewald, Aurea Domingues Guimarães, Camila Fernandes Bravo, Carolina Bragança Sobreira
Crônicas folhetinescas: subjetividade, modernidade e circulação da notíciaSandra M L Brancato
Getúlio Vargas e a implantação do Estado Novo no Brasil: as primeiras impressões do Diário de Notícias de LisboaParte III: Imprensa, cultura e política
Isabel Lustosa
Cairu, panfletário: contra a facção gálica e em defesa do Trono e do AltarIvana Stolze Lima
Cabra gente brasileira do gentio da Guiné: imprensa, política e identidade no Rio de Janeiro (1831–1833)Monica Pimenta Velloso
Percepções do moderno: as revistas do Rio de JaneiroAntonio Herculano Lopes
Do monarquismo ao “populismo”: o Jornal do Brasil na virada para o século XXJoëlle Rouchou
Samuel Wainer: memórias entre jornalismo e políticaParte IV: Mídias e representações
Ana Maria Mauad
O olho da História: fotojornalismo e a invenção do Brasil contemporâneoLená Medeiros de Menezes
Civilização × barbárie: mito de combate no discurso midiático sobre a Revolução (1917–1921)Lia Calabre
Rádio e política: o caso do Parlamento em AçãoCarla Siqueira
Sensacionalismo e retórica política em Última Hora, O Dia e Luta Democrática no segundo governo Vargas (1951-1954)Ana Paula Goulart Ribeiro
Modernização e concentração: a imprensa carioca nos anos 1950-1970Sonia Wanderley
História e TV: produção e difusão do saber – a televisão como cenário de representação política