Uma ação do tipo sujeito-arquiautor buscaria reavivar o espaço público minguado por interesses que apontam para a multiplicação de espaços privados, que preterem práticas cidadãs e politizadoras àquelas grafadas pelo consumo descompromissado de questões sociais, desde o uso e a ocupação democráticos dos espaços urbanos até a desobstrução de vias de mobilidade social numa sociedade marcada por enormes distâncias. Ou não é nada disso e a ação resume-se a beijar alguém numa ponte de tábuas à beira de uma lagoa urbana, causando despercebidamente inveja/inspiração nos que passam apressados por falta de amor, por medo de assalto, mas já rasurados pela possibilidade de o amor tomá-los de assalto naquela mesma ponte.
Nos termos deste livro, não se especifica uma hierarquia entre prática do tipo sujeito-arquiautor e outra prática menor que nem se inscreva como sujeito-arquiautor nem como indústria cultural. A invenção do jogo aqui proposto, a premissa, o movimento das peças, especifica essa impossibilidade, ainda que não dita de forma explícita ao longo do texto. O outro da prática arquiautoral (ela própria definida como alegoria benjaminiana, espécie de avatar que já faz deslizar o ser/estar positivo e firmado no mundo) não poderia ser ninguém além da prática que descreve o movimento discursivo caracterizado como indústria cultural, aí sim uma metafísica, um a priori passível de uma crítica desconstrutivista que acusa a dicotomia assumida no esquema do jogo.
Como dito, porém, não há hierarquia, separação, entre a prática do sujeito-arquiautor e outra de menor importância. É disso principalmente que o texto se previne e se blinda na proposição formal do “pequeno gesto”, especificado como postura cotidiana que politiza uso e ocupação do espaço público. Para o sujeito-arquiautor não há prática autoral e artística, arte, no sentido clássico do termo, mas sim num sentido rasurado, a princípio produzido por nós quando não pasmamos “no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar” (já dizia Raul Seixas, este sim um autor clássico). Essa dicotomização de práticas (pequeno gesto em contraste com deixar-se siderar no trono do apartamento em frente à televisão) pode ser alvo de crítica desconstrutivista. Mas aí, por outro lado, o livro se desfaria – haja vista que essa é a pulsão que o justifica como força no mundo, força bruta que brutaliza o jogo, sem vergonha de si.
O sujeito-arquiautor: conflitos do discurso urbano e midiático
Walcler de Lima Mendes Junior
ISBN: 978 85 98271 78 1
Código de barras: 9 788598 271781
Formato: 13×18cm
Número de páginas: 160
Peso: 280g
Ano: 2011
Juliana Michaello M. Dias
PrefácioIntrodução
1. O estado da arte da teoria da comunicação de massa no século XX
1.1. O indivíduo faz a mensagem: o argumento e o contra-argumento
1.2. A mensagem faz o indivíduo: a corrente crítica
1.3. Não fazer a indústria cultural ou fazer a não indústria cultural
1.4. Indústria cultural na metrópole do século XX2. Filtros da indústria cultural e narrativas da não indústria
2.1. Filtros
2.2. Narrativas
2.2.1. Das narrativas clássicas à narrativa benjaminiana
2.2.2. O choque entre as culturas nômade e colônica na narrativa benjaminiana
2.2.3. O tempo na narrativa: Cronos e Aion3. A criação autoral diante da lógica da indústria cultural
3.1. A construção do sujeito-autor: práticas, territórios e alteridades
3.2. A rua encapsulada pelos limites técnicos e ideológicos da indústria cultural
3.3. O sujeito-autor na movediça condição pós-moderna4. A cidade reescrita
4.1. A construção da imagem e a construção da cidade
4.2. Do ordenamento ao caos
4.3. O sujeito-arquiautor
4.4. A prática arquiautoralReferências