“Desde as elaborações de Foucault sobre o poder, tornou-se impossível pensar as resistências e suas derivações fora das redes de produção de verdade. Se poder produz saber, se não há saber sem a constituição de poder e se este se apresenta como difuso, relacional e operatório, é em meio às múltiplas correlações de forças que se tecem as práticas de constituição de si e do mundo. 
 
É nesse sentido que podemos falar de políticas da existência, ou de modos de vida, implodindo as equivalências imperialistas. Certamente, esse é o desafio que anima e que acompanha as análises empreendidas nos escritos que compõem este livro. Trata-se de considerar formas hipervisíveis – conselho tutelar, família, psicologia, violador, humanidade, usuário, regimento – e nelas rasgar percursos, instaurar descontinuidades, se deixar interpelar mergulhando nas sombras do desconhecido. 
 
As cartografias aqui desenhadas afirmam, para além de uma impossível postura de isenta neutralidade do trabalhador social, a inescapável tomada de posição nas redes de saber-poder como convocação do presente. Nos rastros das evidências, os autores nos convidam a entrar nas salas, percorrer corredores, vasculhar arquivos, acompanhar reuniões. Uma lição para aqueles que, aprisionados às formas, desacreditam e desinvestem no mundo. Uma aposta na criação de possíveis frente aos constrangimentos do controle que modulam outros cárceres, agora a céu aberto. Uma conquista inacabada agenciando territórios, pessoas, afetos e dispositivos, para fazer funcionar novos combates. 
 
Há que se festejar a iniciativa de restituição pública dos trabalhos de pesquisa-intervenção de estudantes e professores/supervisores que aqui ganham a forma de artigos. Preciosas contribuições que se aliam às forças de reinvenção dos modos de pensar/fazer formação.”
 
(Katia Aguiar, professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense [UFF])