Nas investigações culturais, as que apaixonam são as que parecem improváveis. Por meio delas o pesquisador se realiza; pode trabalhar para afastar as fronteiras da aparência e aprofundar conhecimentos, remover pistas, chegar ao cerne da questão. Numa época de descobertas, quando as atenções saltitam, mostra-se árdua (e conveniente, talvez imprescindível) a tarefa de insistir nas minas esgotadas. Neste livro, a amizade não conduz a uma área de solução fácil. Examinar o tema implica aceitar a complexidade do simples. Existem a humanidade e suas construções magníficas, pelas quais cada afirmação representa uma negação num tecido de possibilidades. Um filósofo não se satisfaria com ambições pequenas, como se devêssemos nos conformar com o falso, já que nos mostramos incapazes de chegar ao verdadeiro. A unidade fala sobre o conjunto, e vice-versa. Daí o marxismo, a preocupação com a sociedade e seus destinos, fundamentando-se no eu e no seu processo de valorização, algo que, na maturidade, Sartre transformaria num desfecho de conclusões. Que esse seja um aspecto negligenciado, com a ênfase posta nas suas contribuições da fase fenomenológica, é um sinal dos tempos; de modo algum, um ponto pacífico. O que representaria para ele, nesse percurso, a amizade?
O ensaísta teria sido um amigo impossível. Defendia idéias até o rompimento, embora não fosse o que lhe passasse pela mente. Ficaram na história as polêmicas que travou com políticos e com pessoas próximas, incluindo Albert Camus, o amigo. Não conciliava, manejava palavras; não se detinha nos sentimentos, machucava.
A autora exerce seu poder de análise na contracorrente das opiniões. Sentindo que, com Sartre, a noção de philía se moderniza, fere preceitos, ousa, interpreta, persegue intuições, não se detém nos modismos. Acompanhá-la é realizar uma viagem nova num território que se imaginava conhecido.
Sartre: philía e autobiografia
Deise Quintiliano
ISBN: 85 74903 53 1
Código de barras: 9 788574 903538
Formato: 14×21cm
Número de páginas: 184
Peso: 280g
Ano: 2005
Coedição: Faperj
Abreviaturas das obras de Sartre
Prefácio
La dernière manif
Repensando a amizade
As premissas clássicas da philía
A modernidade nos estudos da philía
A força da “amizade”: Derrida, Arendt, BlanchotA intersubjetividade na história (auto)biográfica
O projeto (auto)biográfico sartriano
A historicidade intersubjetiva
Amizade e engajamento: um dilema intersubjetivoPrenúncios da problemática da philía em Les mots
Fraternidade fratricida nos estudos da philía
O instinto gregário
Por uma alteridade iluminada: a dissolução do rebanho
A experiência do cinemaVertentes representativas da fraternidade
O humanismo sartriano
A ultrapassagem da “fraternidade-terror”
Fraternidade como dissimulação da amizadeDa fraternidade religiosa à fraternidade-utensílio: a crítica da amizade
A “fraternidade religiosa”
A “fraternidade-utensílio”Imaginação e agonismo: a trilha da amizade nas malhas da ficção
Escultura de si: mediações ficcionais
O exercício dialético: “meu amigo, meu inimigo”
A dupla inclusão do feminino
Representações do feminino: a realização de um esteta
A retórica do epitáfioConsiderações finais
Anexo I
Anexo II